Hellraiser 2 – Renascido das Trevas (Hellbound: Hellraiser II, 1988) é o filme subestimado que você precisa ver. Ele leva a mitologia de Clive Barker ao limite, revelando o labirinto infernal do Leviathan e a origem macabra dos Cenobitas liderados por Pinhead.
Se você já leu O Evangelho de Sangue ou A Trama da Maldade, do Clive Barker, sabe que ele consegue criar mundos fantásticos cheios de prazer, dor e maldade de formas que desafiam a imaginação. Esses livros nos jogam em dimensões onde o desconhecido é explorado sem medo, nos levando a experiências que Barker chamou, em algumas obras, de “Unknown Pleasures”. É nesse mesmo espírito que Hellraiser 2 – Renascido das Trevas (1988) tenta transportar o espectador, expandindo o universo do primeiro filme e mostrando o inferno em toda a sua complexidade.
A ideia de escrever sobre Hellraiser 2 surgiu enquanto eu escutava The Screaming of the Valkyries, do Cradle of Filth. O som da banda, pesado e sombrio, me trouxe direto para o universo de Leviathan e dos cenobitas. Dani Filth é fã declarado de Clive Barker, e não é difícil perceber como a música do Cradle traduz os mesmos temas de dor, prazer e caos que o filme apresenta. É quase como se a música e o filme dialogassem, ampliando a experiência de quem acompanha ambos.
Hellraiser: o começo de tudo
O primeiro Hellraiser – Renascido do Inferno (1987) foi escrito e dirigido por Clive Barker, adaptando seu conto The Hellbound Heart. Ele apresenta ao público os cenobitas, criaturas de uma dimensão paralela onde dor e prazer se misturam. Liderados por Pinhead, esses seres surgem quando alguém resolve a Configuração dos Lamentos, uma caixa que conecta nosso mundo ao inferno.
O impacto do primeiro filme foi enorme, tanto comercial quanto cultural. Barker já havia explorado conceitos semelhantes em seus livros, mostrando como o prazer e a dor podem coexistir de maneiras inesperadas. Essa base literária permitiu que o universo de Hellraiser fosse mais profundo do que aparenta, e Hellraiser 2 aproveita essa profundidade para expandir a história de forma impressionante.
Por que Hellraiser 2 é subestimado
Muita gente encara Hellraiser 2 como inferior ao primeiro filme, mas isso é injusto. Com direção de Tony Randel e roteiro de Peter Atkins, o segundo filme teve mais recursos e ousou mostrar o inferno de forma muito mais detalhada.
O filme apresenta mais sangue, mais criaturas e mais fantasia, com quase toda a história acontecendo no inferno. Além disso, ele explica mais sobre o universo dos cenobitas, mostrando como eles funcionam e introduzindo o Leviathan, a entidade central do inferno.
Se tivesse tido ainda mais recursos, Hellraiser 2 poderia facilmente superar o original. A ideia do inferno, a construção dos cenobitas e a narrativa visual são incrivelmente criativas e mereciam mais reconhecimento.
A história: Kirsty Cotton e o hospital psiquiátrico
Em Hellraiser 2, Kirsty Cotton (Ashley Laurence) está internada em um hospital psiquiátrico, tentando lidar com os traumas de ter encontrado os cenobitas no filme anterior. O Dr. Philip Channard (Kenneth Cranham) se interessa por sua experiência e manipula os pacientes para estudar a Configuração dos Lamentos, buscando abrir a porta para o inferno.
O assistente de Channard, Kyle MacRae (William Hope), percebe as intenções do médico e decide ajudar Kirsty. No hospital, a adolescente Tiffany (Imogen Boorman), muda devido a trauma, mostra talento para decifrar enigmas e se torna essencial para abrir a caixa que conecta ao inferno.
A partir desse ponto, a história se transforma em uma jornada pelo inferno, cheia de horrores e desafios, incluindo o Tio Frank (Sean Chapman), agora transformado em uma massa de carne sem pele, e os cenobitas, cada um mais icônico que o outro: Pinhead, Chatterer, Butterball e Female.

Leviathan: o deus do inferno
O Leviathan é talvez o elemento mais impressionante do filme. Representado como uma pirâmide gigante, ele domina o universo dos cenobitas, funcionando como uma força que regula a dor, o prazer e a ordem do inferno.
O inferno do Leviathan não é apenas um cenário; ele é um personagem vivo, com corredores labirínticos, armadilhas, criaturas e testes que desafiam os protagonistas. A sensação de estar dentro desse espaço é única: você percebe cada detalhe, cada movimento, cada criatura que observa ou persegue Kirsty.
Essa ideia de Leviathan como entidade central é um ponto que diferencia Hellraiser 2 de outros filmes de horror: não é apenas uma história de terror, mas uma exploração de conceitos de poder, dor e prazer em uma escala quase filosófica.
Cenobitas: terror e simbolismo
Os cenobitas são o coração da franquia, e em Hellraiser 2 eles ganham ainda mais destaque. Cada um é único, tanto em design quanto em função dentro do universo:
- Pinhead (Doug Bradley): líder frio e calculista, com cabeça cravada de pregos.
- Chatterer (Nicholas Vince): incapaz de falar, com dentes rangendo constantemente.
- Butterball (Simon Bamford): obeso, com óculos cravado no rosto, presença grotesca.
- Female (Barbie Wilde): garganta aberta, mudança de atriz em relação ao primeiro filme.
Eles representam mais do que apenas monstros: cada cenobita simboliza uma faceta do sofrimento humano e da obsessão pelo prazer e dor. Hellraiser 2 aproveita isso de forma mais intensa, mostrando que os cenobitas são muito mais que vilões; são regras vivas de um mundo paralelo que desafia nossa compreensão.
Violência e fantasia: um equilíbrio marcante
O segundo filme se destaca pela intensidade de violência e fantasia. Algumas cenas memoráveis incluem:
- Dr. Channard se transformando em cenobita, suspenso por tentáculos e armado com ganchos e lâminas, fazendo trocadilhos irônicos sobre cirurgia.
- Pacientes mutilando-se, acreditando estar sendo devorados por vermes.
- Julia restaurando seu corpo a partir de cadáveres pendurados, apodrecendo lentamente, criando uma sensação de horror constante.
Essas cenas não são gratuitas; elas ajudam a construir o inferno de Leviathan e a atmosfera do filme, mantendo o espectador tenso e ao mesmo tempo fascinado.
Cradle of Filth e a Tematica Inspirada na Obra

Enquanto escutava The Screaming of the Valkyries, do Cradle of Filth, percebi o quanto a banda e Dani Filth se conectam com o universo de Hellraiser 2. A música deles reflete os mesmos temas do filme: prazer, dor, perversão e caos.
O Dani Filth é fã confesso de Barker, e não é por acaso: o som dos caras, com aqueles blast beats e a gritaria, é o aftermath perfeito. Ouvir algo como To Live Deliciously do album de 2025 do Cradle depois do filme não tira o foco, pelo contrário: é como se a música prolongasse a sensação de ter voltado do inferno. É a estética sombria de Barker transbordando do cinema para o metal.
Subestimado, mas brilhante
Hellraiser 2 é subestimado por muitos, mas isso se deve principalmente às expectativas criadas pelo primeiro filme e à falta de recursos comparados a blockbusters. No entanto, o filme é ousado e cheio de ideias:
- Expande o universo dos cenobitas.
- Introduz Leviathan como força central do inferno.
- Aumenta a intensidade de horror e fantasia.
- Conecta diretamente com a literatura de Barker, incluindo os conceitos de Unknown Pleasures.
Se tivesse tido mais orçamento, poderia facilmente ser considerado superior ao primeiro filme. A riqueza de ideias e a construção do inferno mostram que Randel e Atkins entenderam profundamente o material de Barker e conseguiram traduzir isso para a tela.
Um clássico que merece mais atenção

Se você gosta de horror que mistura fantasia, perversão e criatividade, Hellraiser 2 – Renascido das Trevas é obrigatório. O filme oferece:
- Cenobitas icônicos em suas formas mais criativas.
- O Leviathan como entidade central do inferno.
- Sequências memoráveis que combinam horror e fantasia.
- Conexão com livros de Barker e influências musicais, como Cradle of Filth.
É um filme subestimado, mas essencial para quem quer explorar o universo completo de Hellraiser. Ele nos leva a dimensões desconhecidas de prazer e dor, criando uma experiência que poucos filmes de horror conseguem igualar.
Se você ainda não revisitou Hellraiser 2, essa é a hora. Prepare-se para entrar no inferno de Leviathan e entender porque, mesmo subestimado, o filme é uma obra-prima do horror e da fantasia dos anos 80.
Hellraiser 2 – Renascido das Trevas
Original: Hellbound: Hellraiser 2
Ano: 1988 | País: EUA, Reino Unido
Direção: Tony Randel
Roteiro: Peter Atkins
Produção: Christopher Figg
Elenco: Doug Bradley, Ashley Laurence, Clare Higgins, Kenneth Cranham, Sean Chapman, William Hope, Barbie Wilde, Simon Bamford, Nicholas Vince, Angus MacInnes
VEREDITO FINAL VEI DO BLOGUE:
★★★★☆ 4/5
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- » A Crítica do Boca do Inferno: A resenha do meu site favoriro de filmes de terror que celebra a sequência infernal de ‘Hellraiser 2’.
- » O Deus dos Cenobitas Explicado: Artigo detalhado sobre a mitologia de Leviathan e o Labirinto em ‘Hellraiser’.
- » Curiosidades sobre a Ordem de Gash: Saiba mais sobre os Cenobitas e sua relação com a dor e o prazer.
- » A Origem Literária: Detalhes sobre a obra de Clive Barker que deu início a tudo: *The Hellbound Heart*.
Concordo plenamente é uma história muito interessante. Aliás os três primeiros filmes são muito bons.