Entenda por que o cartaz de Glenn Danzig com o Sol Negro virou polêmica, onde nasce o símbolo supremacista e como separar estética de ideologia — sem paranoia.
Cabeça de bode é uma coisa, Sol Negro é outra.
Você que cresceu ouvindo Misfits provavelmente viu de tudo: caveira, morcego, cemitério de papelão, letras B‑movie e um Elvis satânico nanico usando calça de couro colada. Normal. A graça do punk‑horror era justamente debulhar tabu.
Mas recentemente pintou um pôster de show do Glenn Danzig com aquele disco solar de 12 raios pretos curvados. Muita gente achou só “runa viking estilosa”. Outros berraram: “símbolo nazista!” — e o debate virou ringue de UFC ideológico.
Seja bem‑vindo ao artigo que vai destrinchar:
- O que é, afinal, o Sol Negro (Schwarze Sonne)
- Por que o desenho nasceu dentro da SS de Heinrich Himmler
- Como Danzig tropeçou nessa mina visual
- A diferença entre cancelar tudo e passar pano
- Casos paralelos: Jason Newsted (Metallica) e o real supremacista Varg Vikernes (Burzum)
- Dicas pra você, fã de rock, não virar nem caça‑bruxas nem porta‑voz de extremista

E, sim, vamos manter bom humor, porque texto sisudo demais não pega ranqueamento — nem coração de alguem que por ventura se interesse por essas escrituras.
O Sol Negro explicado pelo véi apressado
Origem curta e grossa: o Sol Negro não é símbolo pagão antigo. Foi concebido na década de 1930 por arquitetos a mando de Himmler, no piso de mármore do castelo Wewelsburg, QG místico da SS.
Design: doze runas Sig (ᛋ) dispostas em espiral, lembrando uma hélice solar. A runa Sig, sozinha, já era emblema da SS. Junte doze, some astrologia de picareta e voilá: “radiância ariana”.
Uso original: rituais pseudo‑nórdicos onde oficiais juravam lealdade racial.
Pós‑guerra: caiu no limbo até a contracultura esotérica dos anos 1970‑80 redescobrir. Daí migrou para:
- Movimentos neonazistas (principalmente na Europa)
- Cerimônias neopagãs (algumas inocentes, outras nem tanto)
- Capas de disco, tatuagens, pôsteres de quem achou “um sol diferentão” sem googlar
Glenn Danzig — quando o vampirão se enrola no tapete místico
Contexto: Danzig sempre misturou satanismo pop, mitologia e HQ pulp. O cartaz em questão trazia o nanico musculoso na frente do tal círculo solar; cores idênticas ao piso de Wewelsburg.
Provocação ou ignorância?
- Cenário A — ele sabia:* Danzig, rato de livros ocultos, pôs de propósito pra chocar. (Me baseio na quantidade de simbolos ocultiscas que ja vi permeando a obra)
- Cenário B — ele não sabia:* (será?) o designer pescou a arte do Google Images, Danzig achou bonito, aprovou no impulso.
Qualquer uma das opções gera problema: em 2025 não faltam artigos, wikis e threads explicando que o Sol Negro é marca registrada do neonazismo moderno. Dizer “não sabia” soa preguiça. Dizer “sabia e não ligo” soa cumplicidade.
Moral rápida: todo símbolo carrega história. Se você escolhe usá‑lo, carrega o pacote completo — até o que não queria.
Quando a patrulha erra o alvo — Jason Newsted marchando
Volto pros anos 1990. Tem vídeo de Jason Newsted, então baixista do Metallica, marchando no palco na intro de uma música que não me recordo bem qual era. Inventaram que era “saudação nazista”. Bobagem:
- Não havia suástica, runa nem slogan.
- Jason nunca deu declaração política radical.
- Marchar é gesto teatral — quase todo frontman faz.
- A batida tinha clima de marcha, e ele entrou na onda, encenou a cena.
Transformaram um headbanger brincando de marcha soldado num “apologista de Hitler”. Criminalizaram e desgastaram a vigilância real.
Quando tudo é nazismo, nada é nazismo. O alerta perde força.
O oposto — Varg Vikernes fede de verdade
Já o norueguês Varg Vikernes (Burzum) não tem meio‑termo:
- Condenado por queimar igrejas históricas.
- Assassinou o colega Euronymous a facadas.
- Em entrevistas, elogia Hitler, prega etnonacionalismo europeu, chama o Holocausto de “exagero”.
- Hoje vende RPGs pagãos onde “mistura cultura nórdica e eugenia”.
Curiosamente, parte do público black‑metal diz “separar arte do artista” e finge que é “folclore”. A condescendência grita.
Apesar de eu ser adepto de separar a arte do artista, Eu não consigo ouvir o Mayhem nem o Burzum já que o contexto da arte em sí é comprometido, principalmente no Burzum.
Linha tênue entre choque estético e propaganda
Arte chocante sempre cutucou religião, política, pudor. Ótimo: choque faz pensar.
Propaganda extremista promove agenda de ódio travestida de cultura.
Critérios práticos pra não errar:
- Contexto histórico — símbolo foi criado pra o quê?
- Intenção atual — quem usa defende a mensagem original?
- Frequência — é um deslize pontual ou parte de discurso?
- Reação do autor — explicou? Retirou? Dobrou a aposta?
Danzig até hoje não deu retratação clara. Perdeu chance de virar estudo de caso positivo. (Quem cala…)
Curiosidades, outras polêmicas e o gosto amargo de quem ouve Misfits desde sempre
Tá cheio de artista que pisa na bola — e quando é alguém que fez parte da tua formação musical, a queda dói mais. No meu caso, ouço Misfits desde sempre. Tipo, desde a adolescência, quando o mundo parecia meio tosco e o som sujo deles fazia sentido.
Aquelas músicas sobre aliens, necrofilia, filmes de terror, assassinatos e apocalipse sempre pareceram exageradas, um teatro punk malcriado, sem pretensão de ser levado ao pé da letra.
A gente relevava muita coisa.
A letra era grotesca? Era. Mas o riff era bom, o clima era divertido, a estética era cinema B com distorção.
Era arte transgressora, não um manifesto de ódio.
Dava pra separar o exagero proposital do discurso de verdade.
Só que agora… ficou esquisito.
Ver o Glenn Danzig usando símbolo parido pela SS, mesmo que por ignorância ou estética (sei não…), faz a ficha cair de um jeito amargo.
Não sei você, mas não gosto de me sentir otário. E botar uma banda dessas no repeat hoje vem com esse ranço automático.
Toda vez que eu escutar “Hybrid Moments” ou “Die Die My Darling”, vou lembrar:
o cara que fez essas músicas é um Cuzão com C maiúsculo.
Outras polêmicas que fedem
O Danzig sempre teve aquela pose de bad boy místico, mas em vários momentos parece que confundiu atitude com imaturidade crônica. E isso não é de hoje. Abaixo, algumas das esquisitices do currículo:
- “O punk está morto” (anos 2000): falou em entrevistas que o punk moderno era fraco, que a galera tinha virado “covarde de cabelo colorido”. Soou mais como um tiozão amargurado do que alguém com algo relevante a dizer.
- Debochou de movimentos sociais: já deu entrevistas rindo de temas sérios como direitos civis, dizendo que o mundo estava “politicamente correto demais”. O problema não é criticar o exagero — é quando tudo vira motivo de piada rasa.
- Confusão nos bastidores: existe vídeo famoso de Danzig levando um soco de outro músico após uma discussão de camarim. A fama de arrogante e mal-humorado nunca foi mistério — parecia que o personagem engoliu a pessoa real.
- Quadrinhos “edgy” de gosto duvidoso: nos anos 90, lançou HQs com temas tipo necro-erotismo e violência gratuita, tentando parecer sombrio e ousado. Mas o resultado era mais constrangedor do que provocador.
Separados, esses episódios seriam só excentricidades. Mas quando você junta tudo — e ainda joga um Sol Negro nazista no meio — o retrato fica difícil de defender.
E aí vem a pergunta inevitável:
Até que ponto a gente tava relevando “arte provocadora” e até onde tava só passando pano pra um cara que nunca cresceu?
Do palco ao feed, responsabilidade sem ficar chato
O rock sempre foi lugar de provocar, cutucar, chutar portinha. Beleza.
Mas uma coisa é usar pentagrama, sangue falso, maquiagem de zumbi. Outra é meter símbolo que foi inventado por gente que matou milhões, achando que é só um desenho estiloso. Não é. Isso tem peso. Tem história. Tem sangue.
O Danzig pisou feio. E o pior: parece que nem ligou. Provavelmente ele não seja um naz.
Mas, sinceramente? Se não é por maldade, é por burrice. E não sei o que é pior vindo de alguém com a carreira que ele tem.
Enquanto isso, tem gente que gasta energia perseguindo quem só fez uma pose de palco, como o Jason Newsted, que marchou num show como parte da performance e quase foi crucificado por isso.
Essa galera vê nazismo até em jaqueta de couro.
E enquanto isso, o Varg Vikernes tá por aí, vendendo discurso supremacista real, cheio de seguidor.
Ou seja: tem gente sendo burra, tem gente sendo cega, e tem gente sendo perigosa. E a gente aqui no meio tentando entender como ainda não aprenderam nada com a história.
Pra fechar:

Informação é igual palheta: é leve, mas na mão certa, muda o som todo.
Escolha direito o que você segura antes de subir no palco
Links interessantes pra vois seis:
- Wikipedia – Black Sun (origem, uso nazista e adoção por grupos atuais)
- Wikipedia – Castelo de Wewelsburg e o misticismo da SS
- LouderSound – Danzig critica “cancel culture” e “woke bullshit”
- Metal Injection – A célebre briga de bastidor em que Danzig levou um soco
- InsideHook – Análise das declarações “anti-PC” de Glenn Danzig
- Chaoszine – Como um vídeo do TikTok gerou acusações contra Jason Newsted
- SPLC – Reportagem sobre National Socialist Black Metal e o papel de Varg Vikernes
- Misfits Central – Banco de dados de letras, formações e entrevistas
Leia: Estoicismo Pop: A Nova Autoajuda de Quem Se Acha o Marco Aurélio do Coworking