Estoicismo pop modinha: “Não reclame do algoritmo, ele só reflete sua mente distraída — a filosofia para a geração digital que fala mais do que faz.”
Você já deve ter topado no Youtube ou Tik Yok com essas figuras: barba bem aparada, olhar impassível, um livrinho do Marco Aurélio na mochila e, um post diário no Instagram com frases tipo:
“Você não controla o mundo. Só sua reação.”
Como se fosse o primeiro a descobrir isso, o gênio.
Sim, estamos vivendo a era do Estoicismo Estoicismo Vibe Coach — uma mistura de autoajuda gourmet com estoicismo de Twitter, promovida por gente que acha que “virtude” é acordar às 5h da manhã e tomar banho gelado assistindo vídeo motivacional com legenda em inglês e trilha do filme Gladiador.
E é aqui que começa o problema.
Estoicismo pop: De Epicteto ao Planner: Quando o Filosofia Vira Copy de Alta Conversão
O verdadeiro Estoicismo foi criado por caras que literalmente viviam sob a ameaça da morte, da escravidão e da humilhação pública. Epicteto era escravo. Marco Aurélio comandava um império em colapso. Sêneca foi forçado a se matar. Nenhum deles usava short de compressão ou fazia reels.
Eles falavam em aceitar o inevitável, controlar as paixões, não se deixar levar pelas emoções baratas do cotidiano. Coisas difíceis. Coisas dolorosas. Coisas que exigem pensamento — não pose.
Hoje, o que temos é uma distorção grotesca: gente que repete frases como
“Foque apenas no que você pode controlar”
pra justificar apatia, alienação, e um ar blasé diante da miséria alheia.
Não é maturidade. É preguiça disfarçada de sabedoria.
O Estoicismo pop dos Fracassados Emocionalmente Fashionistas
Essa nova onda trata o Estoicismo como um figurino de personalidade. Um figurino de quem não aguenta sentir nada e transforma isso em marketing pessoal.
— Não sente raiva?
— “Sou estoico.”
— É indiferente à dor dos outros?
— “Treinei meu desapego.”
— Não reage a nada?
— “Controle emocional, irmão.”
Na prática, virou um escudo pra incapacidade emocional e uma forma de se eximir de qualquer envolvimento real com o mundo. E claro, tudo isso acompanhado de uma estética limpa, neutra, bege. O minimalismo do vazio.
É o sujeito que parece profundo porque fala pouco — mas é só vazio com pose de monge do LinkedIn.
Estoico ou Estagnado?
Se você quer mesmo praticar estoicismo, ótimo. Mas se o que você quer é parecer sábio porque leu três parágrafos de um livro que nem entendeu direito, então vá montar uma startup de frases de para-choque estoico e me deixe em paz.
O verdadeiro estoico sabe que vai morrer, que vai falhar, que a vida não faz sentido. E mesmo assim busca a virtude.
O estoico de internet, por outro lado, acha que vai vencer na vida com banho frio e um planner de produtividade.
Estoicismo: a Filosofia de Boutique
Transformaram uma filosofia existencial em uma fórmula de autoajuda e viraram discípulos de Marco Aurélio como quem segue um coach de crescimento pessoal.
Epicteto não queria que você “se tornasse a sua melhor versão”. Ele queria que você parasse de ser um idiota que se ilude com controle sobre o mundo.
E o pior: isso tudo virou curso.
Curso de estoicismo para empreendedores.
Mentoria estoica.
Grupo pago no Telegram com “reflexões matinais estoicas”.
A pergunta que fica é: é estoicismo ou só oportunismo com barba?
Apropriação estética da filosofia
O problema não é só a apropriação estética da filosofia, mas a completa ignorância de seu contexto. Os novos discípulos digitais do estoicismo parecem não perceber que, para os antigos, a virtude era algo vivido em comunidade, e não um projeto de marca pessoal. Não se trata de “ser inabalável” para escalar sua startup, mas de cultivar caráter diante do sofrimento alheio e da própria queda.
Outro aspecto esquecido por essa geração de influencers estoicos é o papel da dúvida. Sêneca, mesmo sendo um dos mais citados, vivia em conflito entre seus ideais e sua vida luxuosa como conselheiro de Nero. Isso não o tornava um falso estoico — o tornava humano. Já o estoicismo pop abomina qualquer contradição, como se admitir falhas fosse um sinal de fraqueza, e não de filosofia aplicada.
E talvez o mais sintomático dessa febre estoico-coach seja o uso da filosofia como escada social. O que antes era caminho para a sabedoria virou ferramenta de autopromoção. O feed do Instagram virou o novo átrio romano: lá estão os influenciadores, declamando frases milenares para plateias famintas por likes, mas vazias de prática.
Enfim: Respira, Mas Não Posta
Quer praticar o Estoicismo? Comece lendo. Depois, pare de falar sobre isso.
Aceite sua insignificância, pare de se achar um imperador romano porque consegue viver sem reclamar de trânsito, e, acima de tudo: pare de romantizar a sua frieza emocional como se fosse sabedoria ancestral.
Sabe o que Epicteto faria se visse você vendendo e-book sobre virtude por R$ 97 na hotmart?
Ele ia rir.
E depois seguir a vida dele. Sem postar nada.
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